Pois é... Não sou crítico (sequer sei escrever direito), mas me deu na telha falar sobre quadrinhos que acho importantes como referência e que de alguma forma me marcaram.
Muitos podem ficar pasmos, mas nunca fui de ler quadrinhos de heróis* (DC, Marvel...), comecei minha jornada pelas HQs com Tio Patinhas (Carl Barks e Don Rosa) ainda criança, depois passei para Chiclete com Banana, Piratas do Tietê e Geraldão. Foi nessa época, lendo a revista ANIMAL, com seus quadrinhos europeus eróticos, transgressores e experimentais, que fiquei apaixonado pela arte seqüencial.
Confesso que não conheço grandes novidades e já me sinto um velho saudosista, me apegando a velhos clássicos como Moebius, Manara, Spielgman, Crumb, Toriyama, Jeff Smith... e, claro, WILL EISNER, mas juro que vou me esforçar mais para conhecer as novidades desse mundão – Quem tiver dicas de grandes novos artistas, podem colocar sugestões nos comments ou utilizar o e-mail do Mundico (mundicohq@gmail.com).
Por essa e mais outras que vou utilizar meu espaço aqui, de vez em quando, para falar de um quadrinho ou outro. Espero que vocês achem minhas palavras interessantes o suficiente para ler até o final.
Dito isso, vamos à vaca fria:
MAUS
Art Spiegelman
Publicação brasileira pela Ed. Brasiliense
Uma obra prima rara. É assim que vou começar a descrição de MAUS. Esse Quadrinho é excelente em todos os seus aspectos: Arte, Roteiro, Personagens, Níveis de Leitura etc.
Podemos dizer que o livro trata de um relato biográfico de Vladek (pai de Art), um polonês judeu durante a ocupação nazista, mas ele é muito mais que isso. Ele é uma forma de Art tentar entender o seu pai, com o qual mantinha um relacionamento complicado, de forma muito sensível e poética. O autor vai desdobrando a vida de seu pai, e por conseqüência a sua própria, como uma forma de assimilação e redenção de seus próprios conflitos familiares. As cenas de diálogos entre Vladek e Art são de uma sinceridade e humanidade rara. Com certeza a obra é uma homenagem, uma reconciliação e um retrato de uma admiração pelo pai.
A crueza que Vladek conta o dia-a-dia de um campo de concentração nazista (Auschiwtz, no caso) é impressionante. De inegável valor histórico, os detalhes e fatos mostrados no Quadrinho renderam a Art Spielgman um prêmio Pulitzer especial (uma nova categoria de premiação, pois a banca avaliadora não conseguiu definir se sua obra seria considerada como Ficção ou Biografia).
Um recurso que mexe muito com quem lê o Quadrinho é o uso do antropomorfismo com animais para representar nacionalidades diferentes. Existem muitas explicações para o seu uso nessa obra, tais como uma forma de ironizar e mostrar o absurdo que é separar as pessoas pela raça/credo. Satirizar a própria maneira que os nazistas tratavam os judeus (pestes) e os poloneses (porcos). O recurso parece ter ainda a função de dissociar o leitor da realidade dos relatos, para então dar um choque quando notamos que, em alguns quadros, as faces de animais são apenas máscaras e que na realidade todos são pessoas, humanos... Como você e eu.
Publicada em partes pela revista RAW entre 1980 e 1991, Maus foi posteriormente publicada em dois álbuns (primeira parte em 1986 e a segunda em 1991).
É isso, “vamo que vamo”!
[ ]s no plexo solar,
Takren
*Claro que adoro Wolverine e Destrutor, Asilo Arkham, etc.
11 comentários:
Bem legal a nova coluna... ótima iniciativa!
ABRAÇÃO!
Legal Toro! Muito bom!
Eu sinto até uma proximidade de Maus com as coisas do Kafka. O que você acha?
boa idéa!
aliás, falando em rato, vc já leu Mouse Guard?
@hugo: Kafkaniano? Hum... pergunta difícil, sô. :P Acho que sim, talvez por tratar do âmago do ser humano, não sei. Vou ter que fazer lição de casa. heheh.
@Anônimo: Mouse Guard? Eu ví na Comix, achei a arte belíssima e delicada. Mas não lí, é bom?
edit: Foi na comix? Não tenho certeza... Alguém me mostrou...
Fala Renato, Beleza!
Cara, continuo quardando cerca de 1600 HQs das quais não pretendo me livras tão cedo e minha última aquisição foi um livro do Sandman em 2006. Quando você confessa que não conhece novidades, me deu um alívio... agora eu sei que não sou só eu (hehe)..
Gostei do Texto falando sobre o Maus, que não li, mas sei de sua história e de seu papel importante na história da arte sequêncial.
Abraços
Adriano
Doa? Vende? Empresta? Quero ler!!!!
Excelente iniciativa de quem entende pacas da nona arte?
PS: Qual é a oitava mesmo?!?!
A oitava não é a Fotografia?
• As nove artes do Mundo Moderno:
1. Música;
2. Dança;
3. Pintura;
4. Escultura;
5. Literatura;
6. Teatro;
7. Cinema;
8. Fotografia;
9. Quadrinhos.
As nove artes da Grécia Antiga: poesia épica, poesia lírica, história, música, dança, tragédia, comédia, hinos sagrados e astronomia.
As nove artes liberais da Idade Média: O Trivium (Gramática, Lógica, Retórica) era a base da formação e o Quadrivium (Aritmética, Geometria, Música, Astronomia) completava a instrução mais avançada. Quem se distinguia no Quadrivium podia continuar os seus estudos na Filosofia e na Teologia.
André Lasak também é cultura, hehehe.
ABRAÇÃO!
A fotografia não deveria vir antes do cinema por uma questão de lógica narrativa? Ou quem criou essa lista foi o Tarantino?
@Zebode: Poisé. Mas é nessa ordem mesmo. Bizarro
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